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Quem vai cuidar deles? Planejamento sucessório para pessoas com deficiência e idosos dependentes

  • Foto do escritor: Bianca Collet
    Bianca Collet
  • 15 de out.
  • 5 min de leitura

Descubra como o planejamento sucessório pode proteger familiares com deficiência e idosos dependentes. Mais de 14 milhões de brasileiros precisam dessa proteção.

Conheça as ferramentas jurídicas disponíveis.


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A preocupação que tira o sono de milhões de brasileiros


A maior preocupação de pais de filhos com deficiência ou de quem cuida de familiares idosos é: quem vai cuidar deles quando eu não estiver mais aqui? Essa pergunta, que tira o sono de milhões de brasileiros, nunca foi tão urgente. 


De acordo com o Censo de 2022, divulgado pelo IBGE e detalhado pelo Nexo Jornal, o Brasil tem 14,4 milhões de pessoas com deficiência. Paralelamente, o país vive um envelhecimento populacional acelerado: são 34,3 milhões de brasileiros com mais de 60 anos, representando 15,9% da população. A previsão é que até 2044, 40% dos brasileiros terão mais de 50 anos.


No meu dia a dia, vejo famílias que buscam muito mais do que soluções financeiras: elas querem a certeza de que seus entes queridos continuarão recebendo cuidado e dignidade, mesmo quando não estiverem mais presentes.


Diante desse cenário, o planejamento sucessório deixou de ser um luxo e se tornou uma necessidade vital. Este artigo mostra quais instrumentos jurídicos você pode usar para assegurar o futuro de quem depende de você.



O impacto da ausência de planejamento sucessório na vida de quem mais precisa


A questão "quem vai cuidar dele(a) quando eu não estiver mais aqui?" não é apenas uma questão retórica; ela encapsula uma série de dores e preocupações muito reais. Pais de pessoas com deficiência, filhos de idosos em situação de dependência, ou cônjuges de quem enfrenta doenças degenerativas sabem que a continuidade do cuidado não é algo que se possa deixar ao acaso.


Sem um planejamento adequado, o futuro de um familiar vulnerável pode ser marcado pela incerteza. A ausência de um plano pode levar à dilapidação do patrimônio que deveria sustentar esse cuidado, seja por má gestão, por ações de terceiros ou por custos inesperados.


O desconhecimento sobre as ferramentas jurídicas disponíveis também é um problema frequente, fazendo com que muitas famílias deixem de utilizar instrumentos que poderiam proteger seus entes.


A falta de um plano claro pode resultar em interrupção ou precarização do cuidado, pois sem recursos ou responsáveis definidos, a qualidade de vida do familiar pode diminuir drasticamente. Além disso, podem ocorrer conflitos sobre quem deve assumir a responsabilidade e como os recursos devem ser geridos.



Por que tantas famílias não se planejam?


O verdadeiro obstáculo não é a falta de recursos ou de opções jurídicas, mas uma combinação de fatores emocionais e práticos que paralisam a ação.


É claro que pensar sobre a própria finitude ou sobre quem cuidará de um ente querido vulnerável é doloroso. A procrastinação se instala facilmente, e muitos adiam até que seja tarde demais. Existe ainda a falsa crença de que planejamento sucessório é apenas para grandes fortunas. Na verdade, qualquer família com um membro vulnerável precisa dessa proteção, independentemente do tamanho do patrimônio.



As ferramentas jurídicas para planejamento sucessório


Existem instrumentos legais específicos para garantir que seu familiar vulnerável continue recebendo cuidado e amparo financeiro, mesmo na sua ausência. O segredo está em combiná-los de forma estratégica, criando um plano que assegure:


✓ Continuidade do cuidado 

✓ Gestão profissional do patrimônio 

✓ Redução de burocracias e custos 

✓ Proteção contra riscos e má gestão


Conheça as principais ferramentas disponíveis:


1. Testamento com cláusulas específicas

O testamento é a ferramenta mais direta para expressar sua vontade sobre a destinação de seus bens. Para familiares vulneráveis, ele se torna ainda mais poderoso ao permitir a inserção de cláusulas protetivas:


  • Usufruto vitalício: Você pode deixar a propriedade de um bem (como um imóvel ou investimento) para determinados herdeiros, mas destinar o usufruto vitalício ao familiar vulnerável. Na prática, isso significa que ele terá direito aos rendimentos ou ao uso do bem pelo resto da vida, garantindo seu sustento, enquanto a propriedade permanece com os demais herdeiros.

  • Cláusulas protetivas: quando aplicadas a bens deixados para o familiar, impedem que eles sejam vendidos, penhorados por dívidas ou divididos em caso de casamento ou união estável. É uma camada adicional de proteção.

  • Nomeação de administrador dos bens: Você indica uma pessoa de sua confiança para gerir os bens deixados para o familiar vulnerável, assegurando que os recursos sejam utilizados para o seu benefício exclusivo, conforme suas instruções.


2. Curatela e Tomada de Decisão Apoiada

Estes são institutos fundamentais para garantir que a vontade e os interesses de pessoas com deficiência sejam respeitados quando elas não puderem expressá-los plenamente:


  • Curatela: É um processo judicial que nomeia alguém (o curador) para gerir os bens e atos da vida civil de uma pessoa que não possui condições de fazê-lo. Após o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), a curatela é vista como uma medida excepcional e deve ser aplicada nos limites da necessidade.

  • Tomada de Decisão Apoiada: Uma alternativa mais moderna e respeitosa à autonomia. Permite que a pessoa com deficiência ou o idoso escolha duas pessoas de sua confiança para lhe prestar apoio na tomada de decisões, sem retirar sua capacidade legal. É uma forma de proteger e auxiliar, mantendo a autonomia.


3. Holding Familiar com Governança

A Holding Familiar é uma estrutura empresarial que organiza o patrimônio da família, incluindo bens e participações societárias. Ela é uma ferramenta robusta para o planejamento sucessório, especialmente para familiares vulneráveis:


  • Renda vitalícia: A holding pode ser estruturada para gerar uma renda periódica e estável para o familiar, proveniente dos ativos administrados, sem que ele precise gerir diretamente o patrimônio.

  • Profissionalização da gestão: A administração do patrimônio pode ser profissionalizada, garantindo que os recursos sejam bem geridos, independentemente da capacidade dos herdeiros ou do familiar beneficiado.


4. O papel do Administrador

Em muitos dos instrumentos listados, a figura de um administrador ou gestor dos recursos é essencial. A escolha dessa pessoa deve ser feita com muito critério:


  • Idoneidade e capacidade: O administrador deve ser alguém íntegro, com capacidade para gerir recursos financeiros e compreender as necessidades específicas do familiar.

  • Vínculo com o beneficiário: Ter uma relação afetiva pode fazer diferença na qualidade do cuidado e na compreensão das particularidades de quem será assistido.

  • Nomeação de substituto: Sempre indique um administrador substituto para casos de impedimento, falecimento ou renúncia do titular.


Ferramentas Complementares: Proteção Financeira Adicional


Embora meu trabalho foque nos instrumentos jurídicos e sucessórios, vale mencionar que existem produtos financeiros que podem complementar seu planejamento:


Previdência privada (VGBL/PGBL): Permite nomear beneficiários que receberão os valores sem inventário, podendo estruturar renda vitalícia ou por período determinado. Consulte um planejador financeiro para avaliar vantagens tributárias.


Seguro de vida estruturado: O capital pode ser pago em parcelas e administrado por terceiro, evitando que o familiar vulnerável receba grande quantia de uma só vez. Essa estrutura garante gestão adequada dos recursos ao longo do tempo.


Importante: Para esses produtos, recomendo trabalhar com um profissional especializado em planejamento financeiro, que poderá adequá-los à sua realidade e integrá-los ao planejamento sucessório.



Conclusão


O planejamento sucessório para familiares vulneráveis é a forma mais eficaz de transformar a preocupação em ação, assegurando que aqueles que você ama estarão amparados, mesmo na sua ausência.


Lembre-se: muitas das providências podem ser iniciadas por você, como a organização de documentos ou a reflexão sobre quem poderia ser um bom administrador. No entanto, a complexidade jurídica e a necessidade de que os instrumentos sejam válidos e eficazes exigem o acompanhamento de um profissional especializado.


Se você tem dúvidas sobre como aplicar essas estratégias à sua realidade, ou como escolher o melhor caminho para proteger seus familiares vulneráveis, estou à disposição para esclarecê-las.

É o conhecimento que proporciona a segurança para tomar decisões inteligentes e construir um futuro mais protegido.

 
 
 

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