Acordo de Sócios: proteja sua empresa familiar de conflitos
- Bianca Collet

- 1 de out.
- 5 min de leitura
Entenda como o Acordo de Sócios contribui para a estabilidade e clareza das relações empresariais.

Se você é empresário e dedica a vida ao seu negócio, sabe que ele é mais do que uma empresa: é um legado. Mas mesmo nos empreendimentos mais promissores, a falta de regras claras entre os sócios pode transformar sonhos em grandes desafios.
Os números são alarmantes: 90% das empresas brasileiras são familiares1. Elas representam 65% do PIB e empregam 75% dos trabalhadores do país2. Mas apenas 30% dessas empresas sobrevivem à segunda geração e somente 5% chegam à terceira geração3.
A principal causa? Conflitos entre sócios que poderiam ter sido evitados com um planejamento adequado.
Neste artigo, você vai entender por que o Acordo de Sócios não é burocracia, mas uma ferramenta estratégica que protege seu legado, evita conflitos e garante a continuidade do que você construiu.
Por que a falta de um Acordo de Sócios coloca sua empresa em risco?
Você investiu anos construindo seu negócio. Mas e se, nos momentos críticos, não houver regras claras para resolver impasses? É exatamente essa vulnerabilidade que a falta de um Acordo de Sócios cria.
O Contrato Social define a estrutura formal da empresa. Já o Acordo de Sócios vai além: estabelece as regras de convivência, define como decisões serão tomadas e prepara a empresa para situações que o Contrato Social não consegue prever.
Os riscos de não ter um Acordo de Sócios
Sem esse documento, questões fundamentais ficam sem resposta:
Entrada e saída de sócios:
Como avaliar a participação de quem quer sair?
Quem tem prioridade na compra?
Um sócio pode vender sua parte para qualquer pessoa?
Doença ou falecimento:
Os herdeiros podem entrar na empresa?
Como garantir que o negócio continue operando?
Decisões estratégicas:
O que acontece quando os sócios discordam sobre investimentos importantes?
Quem tem poder de veto?
Distribuição de lucros:
Quanto será reinvestido vs. distribuído?
Há regras claras ou cada um decide sozinho?
Vida pessoal dos sócios:
O que acontece em caso de divórcio?
A empresa fica exposta?
Segundo pesquisa da PwC, 75% das empresas familiares fecham após serem sucedidas pelos herdeiros4. A falta de planejamento é o principal motivo.
O inimigo silencioso que ameaça sua empresa
O maior risco para empresas familiares não vem da concorrência ou do mercado. Vem de dentro: a falsa sensação de segurança.
"A gente se conhece há anos", "confiamos um no outro", "não precisa colocar isso no papel" — essas frases são sintomas de um problema que só aparece quando já é tarde demais. A confiança é essencial, mas não é suficiente.
Como esse "inimigo silencioso" se manifesta:
1. Falta de conversas difíceis: As questões mais importantes são adiadas até virarem crises emocionais.
2. Eventos da vida pessoal: Divórcios, falecimentos ou doenças trazem pessoas com interesses diferentes para dentro da empresa.
3. Pequenos conflitos que crescem: Desalinhamentos simples se transformam em rupturas irreversíveis.
4. Paralisia nas decisões: Sem regras claras, decisões estratégicas ficam travadas por medo de conflito.
Dados do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) mostram que 72% das empresas familiares não têm plano de continuidade para cargos-chave5. É essa falta de planejamento que faz com que apenas 7 em cada 100 empresas brasileiras cheguem à terceira geração6.
Como o Acordo de Sócios protege seu negócio
A boa notícia: você não precisa deixar seu empreendimento vulnerável. O Acordo de Sócios é um documento estratégico que antecipa cenários e define regras antes que os problemas aconteçam.
O que o Acordo de Sócios define:
1. Entrada e saída de sócios: critérios para admissão de novos sócios, regras de valoração da empresa, direito de preferência na compra, processo para saída voluntária.
2. Governança e tomada de decisão: Quem tem poder de veto, quais decisões exigem unanimidade, como resolver impasses (mediação, arbitragem), responsabilidades de cada sócio.
3. Sucessão e legado: O que acontece em caso de falecimento, herdeiros podem ou não entrar na empresa, como garantir continuidade do negócio, proteção dos sócios remanescentes.
4. Proteção contra eventos pessoais: Cláusulas para casos de divórcio, separação entre patrimônio pessoal e empresarial, incapacidade ou interdição de sócio.
5. Distribuição de lucros: Percentual de reinvestimento vs. distribuição, política de retirada (pró-labore), reservas obrigatórias.
6. Resolução de conflitos: mediação como primeira instância, arbitragem para questões técnicas.
Validade jurídica: o Acordo de Sócios funciona?
Sim. A legislação brasileira reconhece a validade dos Acordos de Sócios, desde que respeitem a lei vigente, o Contrato Social e os direitos dos sócios minoritários.
A jurisprudência tem consolidado o entendimento de que Acordos de Sócios bem elaborados são vinculantes e podem ser executados judicialmente.
O que você pode fazer agora
1. Reflita sobre cenários críticos:
O que aconteceria se um sócio quisesse sair amanhã?
E se houvesse um falecimento inesperado?
Como sua empresa lidaria com uma divergência estratégica séria?
2. Converse com seus sócios:
Quais são os valores e objetivos de cada um?
Todos têm a mesma visão de longo prazo?
Existe alinhamento sobre crescimento e risco?
3. Busque assessoria especializada: Um Acordo de Sócios eficaz não é um formulário pronto. Requer:
Análise de riscos específicos do seu negócio
Conhecimento jurídico em direito empresarial, familiar e sucessório
Facilitação do diálogo entre os sócios
Visão integrada de patrimônio familiar e empresarial
Elaborar um Acordo de Sócios vai muito além de preencher um documento. É um processo que exige compreensão da interseção entre patrimônio familiar e empresarial, visão estratégica para identificar vulnerabilidades que você ainda não percebeu e criar soluções personalizadas, assim como alinhar expectativas entre gerações.
Conclusão
Ter um Acordo de Sócios não é desconfiar dos seus sócios. É demonstrar respeito pelo negócio e pelo legado que vocês estão construindo juntos.
Os dados são claros: apenas 5% das empresas familiares chegam à terceira geração. A diferença entre as empresas que prosperam e as que fecham está no planejamento.
Não espere o conflito aparecer para agir. As melhores decisões são tomadas em momentos de clareza, não no calor da crise.
O Acordo de Sócios é um investimento na longevidade do seu negócio, na proteção das relações e na tranquilidade de todos os envolvidos.
Proteja o que você construiu. Planeje o futuro que você deseja.
Referências
SEBRAE. Vantagens e desafios na gestão das empresas familiares. Disponível em: https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/am/artigos/vantagens-e-desafios-na-gestao-das-empresas-familiares,5d776f10703bd810VgnVCM1000001b00320aRCRD. Acesso em: 13 out. 2025. ↩
EBC - Empresa Brasil de Comunicação. IBGE: 90% das empresas têm perfil familiar no Brasil. Rádios EBC, janeiro 2024. Disponível em: https://radios.ebc.com.br/revista-brasilia/2024/01/dados-do-ibge-indicam-que-90-das-empresas-tem-perfil-familiar-no-brasil. Acesso em: 13 out. 2025. ↩
EXAME. Qual é o grande desafio à longevidade das empresas familiares brasileiras, segundo a Dom Cabral. 25 fev. 2023. Disponível em: https://exame.com/negocios/qual-e-o-grande-desafio-a-longevidade-das-empresas-familiares-brasileiras-segundo-a-dom-cabral/. Acesso em: 13 out. 2025. ↩
FENACON - Sistema Nacional de Contabilidade. Responsável por 65% do PIB brasileiro, apenas 36% das empresas familiares sobrevivem à sua segunda geração. Disponível em: https://fenacon.org.br/noticias/responsavel-por-65-do-pib-brasileiro-apenas-36-das-empresas-familiares-sobrevivem-a-sua-segunda-geracao/. Acesso em: 13 out. 2025. ↩
CANAL RURAL. Apenas 7% das empresas familiares chegam à terceira geração; como o agro pode fugir disso? 3 out. 2024. Disponível em: https://www.canalrural.com.br/economia/apenas-7-das-empresas-familiares-chegam-a-terceira-geracao-como-o-agro-pode-fugir-disso/. Acesso em: 13 out. 2025. ↩


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